Astrônomos ‘tropeçaram’ em um buraco negro super massivo num canto inesperado do Universo, “o que implica que esses monstros galáticos são muito mais comuns do que se pensava”, segundo um estudo divulgado hoje (15).

O centro da Via Láctea, até onde se sabe, contém um buraco negro com massa 4 milhões de vezes maior que a do Sol, chamado Sagittarius A*. E alguns astrônomos apostam que esse gigante cósmico não está sozinho na verdade, ele seria rodeado por um séquito de buracos negros menores, presos em sua órbita.

Um buraco negro super massivo pode ter uma massa de cerca de um milhão de sóis e ir até aos bilhões. Os buracos negros menores, “comuns” variam entre dezenas e centenas de massas solares, segundo o estudo. “Os buracos negros são regiões muito densas no espaço-tempo, com uma força gravitacional tão forte que nem a luz consegue escapar, tornando-os invisíveis”.

“Formados quando estrelas massivas implodem no fim das suas vidas, os buracos negros normalmente escondem-se dormentes e sem serem detectados nos centros de galáxias”, de acordo com o estudo.

É uma hipótese bonita no papel, mas difícil de comprovar. Afinal, buracos negros são objetos muito discretos: nos 100 mil anos-luz de diâmetro da Via Láctea, só conseguimos identificar algumas dezenas de candidatos, todos por observações indiretas. Não é uma surpresa. Embora esses astros tenham potencial para causar um rebuliço bem visível em sua vizinhança cósmica – como o disco de acreção que se forma quando pedaços de estrela são engolidos por eles, os buracos negros em si são… bem, negros. Ficam camuflados no céu.

Por que não encarar o desafio? O astrônomo Chuck Hailey, da Universidade Columbia, publicou na Nature um artigo científico em que usa truques matemáticos para calcular o número de buracos negros de pequeno porte que dão voltas em torno do núcleo da Via Láctea sem precisar necessariamente vê-los.

Na astronomia, o fato de que não estamos vendo algo não significa que esse algo não esteja lá. Pelo contrário: boa parte das descobertas relevantes da ciência do século 20 foram feitas primeiro nos cálculos e só depois verificadas na prática. Só é possível deduzir a existência de buracos negros se algum fenômeno luminoso estiver ocorrendo próximo a eles. Mas para cada uma dessas singularidades chamativas, devem existir centenas de outras não-identificadas. É uma obrigação estatística.

À u7, Hailey explicou: “Imagine que você tem um monte de lâmpadas, algumas são de 100 watts, outras, de 10 watts. Agora espalhe elas em um campo de futebol e se posicione a um quilômetro de distância. Você provavelmente só conseguirá ver as de 100 watts [mais fortes], mas sabendo qual é a proporção entre os dois tipos, também dá para deduzir quantas lâmpadas de luz mais tênue estão lá, ofuscadas.”

O problema é que saber qual é a proporção entre buracos negros visíveis e invisíveis em uma galáxia não é tão fácil quanto distribuir lâmpadas em um campo de futebol. Há artigos científicos inteiros para especular sobre o assunto. Hailey só tem informações sobre 12 de buracos negros que estão dentro de um raio de 1,6 anos-luz a partir do centro da Via Láctea. Observando características como a luminosidade das estrelas que os acompanham, sua distribuição e seu movimento, ele concluiu que eles são só a ponta do iceberg.

Semelhantes a esses doze, deve haver algo entre 300 e 500 buracos negros no centrão galático interagindo com outro astro em um sistema binário ou seja, que deixam uma assinatura visível no céu na teoria, mas que ainda não foram observados. E para cada um desses acompanhados deve haver outros 19 sozinhos (o cosmos é terra de solteiros). Com esses dados em mãos, é só fazer as contas para chegar a um valor na casa dos 10 mil, ainda que seja difícil cravar um número mais preciso.

“É um resultado intrigante”, afirmou à NPR Fiona Harrison, astrofísica do Instituto de Tecnologia da Califórnia que não estava envolvida no estudo. “Há muitas incertezas nesse tipo de estimativa, mas a equipe encontrou as características certas para pressupor a existência dessa população que de outra forma estaria totalmente oculta.” Falando com a New Scientist, Daryl Haggard, da Universidade McGill, concordou. “Eu não sei se confiaria totalmente nessa análise, mas ela é interessante. Mesmo que no fim só haja mil no centro, ainda é mil vezes mais do que conhecíamos antes.”

O buraco gigante, com uma massa 17 bilhões de vezes maior que a do Sol, foi descoberto em deserto relativo, segundo disseram astrônomos da Universidade de Berkeley, na Califórnia, à revista Nature.

“Enquanto encontrar um buraco negro gigantesco numa galáxia maciça numa área ‘muito populosa’ do Universo é de se esperar – como encontrar um arranha-céus em Manhattan – parecia menos provável que eles pudessem ser encontrados em pequenas cidades do Universo”, explicou a universidade. Segundo o coautor do estudo Chung-Pei Ma, a questão agora é: “Esta é a ponta de um iceberg? Talvez haja muito mais buracos negros gigantescos lá fora, que não vivem em arranha-céus em Manhattan, mas num edifício alto nalgum lugar nas planícies”, comparou. Os cientistas dizem que “os buracos podem, por vezes, ser detectados por seu efeito gravitacional sobre as órbitas das estrelas ao seu redor, e, ocasionalmente, pelos seus frenesis de alimentação espetaculares.

O maior buraco negro supermassivo detectado até hoje tem cerca de 21 bilhões de massas solares, segundo os autores do estudo.

Fontes: agenciabrasil e super-interessante